Húmus de Minhoca: o adubo orgânico mais nobre do planetaUm
solo realmente saudável é um solo vivo. Existem milhões de organismos que são
fundamentais para a ciclagem de nutrientes no ecossistema edáfico. As minhocas
juntamente com cupins, formigas, algumas espécies de besouros e outros insetos
formam uma grande rede da macrofauna de decompositores da matéria orgânica.
Alem de melhorar a estrutura do solo, a presença de minhocas aumenta a taxa de
infiltração, contribui para a formação de agregados e conseqüentemente
aumentando à resistência do solo a erosão. O uso de minhocas para acelerar o
processo de decomposição da matéria orgânica é chamado de Vermicompostagem.
Sua alimentação é basicamente formada de partículas minerais
do solo e resíduos orgânicos como restos vegetais e pequenos animais. Logo ela
pode ser considerada onívora, e esse comportamento alimentar que faz das
minhocas verdadeiras engenheiras do ecossistema.
Após a ingestão, o alimento passa pelo seu trato intestinal
onde sofre a ação de várias enzimas e outros microrganismos presentes tais
como, bactérias fixadoras de nitrogênio, catalizadores de hormônios vegetais e
solubilizadores de fosfato. Desde modo, um solo com a presença de minhocas
sofre alterações em seu pH, e na disponibilidade de nutrientes com destaque
para o Calcio, Magnésio, Fosforo, Potássio e Nitrogênio.
No processo digestivo da minhoca, 40% da matéria orgânica
consumida é utilizada para seu desenvolvimento e o restante (60%) são
transformados em húmus. O que é conhecido como húmus de minhoca nada mais é que
seu excremento, também chamado de Coprólito. O húmus influencia diretamente no
crescimento das plantas em virtude da presença de hormônios reguladores do
crescimento vegetal e ácidos húmicos. Alem disso, estudos recentes também
apontam que a utilização do húmus tem um grande potencial de controle de
patógenos associados a doenças de plantas, principalmente bactérias e fungos.
Só para ter uma idéia, a concentração média dos principais
nutrientes no húmus fica em torno de 1,5% de N (Nitrogênio), 1,3% de P
(Fosforo), 1,7% de K (Potássio), 1,4% de Ca (Calcio) e 0,5% de Mg (Magnésio).
Baseado nos benefícios das minhocas tanto para o solo quanto
para as plantas, que muitos agricultores estão optando pela produção própria do
húmus, processo conhecido como Vermicompostagem. Ou seja, uma decomposição
controlada, realizada pela macrofauna do solo, neste caso, as minhocas.
Um exemplo de sucesso de criação de minhocas e produção de
húmus é o do Sitio Duas Matas, localizado no município fluminense de Varre-Sai,
bem na divisa com o município de Guaçuí, Região do Caparaó Capixaba.
Alem da criação de minhocas, o Sítio produz milho e araruta.
Toda a administração do minhocário é realizada pelo gerente produção Maxwel
Lopes que me explicou todas as etapas do processo produtivo do húmus.Apesar de
ter o minhocário a mais de 8 anos, a criação intensiva para a produção de húmus
teve inicio em 2010. Maxwel explica que o processo de vermicompostagem tem 4
etapas.
Na primeira etapa ocorre a maturação do esterco bovino, onde
ele passa por um processo de pré-compostagem. “Aqui é o principio de tudo, o
esterco recém chegado fica aproximadamente 30 dias na quarentena passando da
cor esverdeada para uma cor preta, pois está quase ficando curtido.” “De dois
em dois dias o esterco é revirado até completar a fermentação, sempre
observando a necessidade de água. No final de 30 dias ele já perdeu
aproximadamente 40% do seu volume” A 1ª etapa é quando o esterco de curral cru
é deixado fermentar sempre mantendo uma umidade numa faixa de 50 a 70%.
Após a 1º etapa é feito um teste medindo a temperatura da
pilha de esterco, se a temperatura estiver estabilizada significa que já pode
ir para os canteiros diretamente para ser colonizado pelas minhocas. “Esse é o
processo mais rápido que tem para preparar uma comida para as minhocas e
transformar em húmus, mas existem outros materiais que podem ser adicionados ao
esterco para enriquecer o húmus” – Explica Maxwel.
Essa é a segunda etapa quando é feita a compostagem
orgânica, utilizando alem do esterco, outros resíduos orgânicos disponíveis no
Sítio. Na propriedade rural quase todos os resíduos orgânicos são aproveitados.
“Na compostagem a gente usa vários materiais aqui da natureza, restos de
jardim, resto de silagem, palha de café, grama forrageira, tudo isso a gente mistura
no pátio e a partir de 120 dias o composto orgânico fica pronto para ser
servido as minhocas.”
Então são dois caminhos para elaborar o substrato que será
transformado em húmus pelas minhocas. O primeiro é a utilização do esterco puro
curtido e o segundo, o fornecimento da compostagem que leva mais tempo para
ficar pronto, porem produz um húmus de melhor qualidade. “O que faz o húmus
ficar melhor é quanto mais diferenciado for os materiais utilizados na produção
de alimentos para as minhocas” – ressalta
Maxwel.
Na terceira etapa do processo, depois do alimento das
minhocas pronto, tanto o esterco puro, quanto o composto orgânicos são
colocados em canteiros de alvenaria, que são chamados de “cochos”. Os canteiros
tem 1 metro de largura e 0,40 m de altura. As minhocas são colocadas sobre o
canteiro, numa proporção aproximada de 0,5 a 1kg por metro quadrado. Como elas
se alimentam sempre da parte superior para a inferior, a cada trinta dias é
coletado manualmente uma parte do húmus.
As minhocas são extremamente sensíveis a luz, ao excesso de
umidade, e a temperatura então cada canteiro recebe duas coberturas, uma para
diminuir a incidência de luz e uma cobertura mais alta para abrigar de chuvas.
É nessa etapa que se deve ter o máximo de cuidado, pois a faixa de temperatura
de desenvolvimento normal das minhocas deve fica de 15 a 33˚C, e umidade
relativa de 75 a 88%.
A principal espécie de minhoca para a produção de húmus é a
Eisenia foetida, conhecida vulgarmente como Vermelha-da-California, é uma
espécie exótica mais apropriada para a produção de húmus. Mas existem outras
como a Eudrillus eugeniae (Noturna Africana ou Minhoca do Esterco).
Após a coleta do húmus, inicia-se a quarta etapa do processo
que é a secagem e embalagem para venda. A secagem é feita a sombra até atingir
30% de umidade, então é embalado em sacos plásticos de 2 a 30kg, e armazenados em local fresco e a sombra.
O húmus é utilizado por horticultores da região
principalmente em cultivos de tomate para mesa. É comercializado também em
lojas de jardinagem para uso doméstico em pequenas hortas e plantas
ornamentais. Há mercado também para venda de minhocas e casulos para
alimentação de animais e outros minhocários.
A vermicompostagem é uma forma de substituir o uso de
fertilizantes sintéticos e aproveitar toda a matéria orgânica disponível para
produzir um adubo orgânico de extrema qualidade. No caso do Sitio Duas Matas, o
esterco de curral ainda é todo comprado de pecuaristas da região, mas o plano é
integrar com a atividade de pecuária leiteira reduzindo ainda mais o custo de
produção. Segundo Maxwel, todos os cuidados são tomados no momento da seleção
de fornecedores de esterco, pois as minhocas são sensíveis a qualquer tipo de
agrotóxico e excessos de antibióticos utilizados nos animais que podem passar
para o esterco, provocando a morte das minhocas.
A integração das atividades utilizando a vermicompostagem
dentro da unidade produtiva aumenta a reciclagem de nutrientes, reduz os custos
de produção, aumenta a fertilidade do solo, a resistência das plantas a
insetos-praga e doenças, alem de produzir alimentos num ambiente equilibrado
e de forma sustentável.